20 janeiro, 2025

Pétala nº 3841


"A forma como Israel esmagou Gaza é imperdoável."

"Tudo é demasiado extremo, demasiado avassalador."

"... as palavras deixaram de conseguir conter a realidade."

"A última vez que o vi em Lisboa disse que, como escritor, preferia não ter de falar de política. É possível evitar o assunto nestes dias?
Não, é impossível, A política está em todo o lado. A realidade brutal está em todo o lado. O que temos estado a viver nestes 13 meses é para além do acreditável e afeta cada mínima parte da nossa vida. Escrever tornou-se também muito difícil. (…)

Então, se o silêncio já não é uma opção, a escrita também não é…   ?
O silêncio é impensável. Mas sabe, seja o que for que eu disser, posso contradizer-me de imediato. Esta é a natureza da situação: tudo o que possa ser dito sobre ela é certo e verdadeiro, mesmo tratando-se de visões contrárias. Estou também a tentar escrever sobre esta realidade, para mim mesmo, porque preciso de compreender certas coisas através do exercício da escrita. Sinto-me confundido. E as pessoas, em geral, estão deprimidas (…) invadiu-nos um sentimento geral de depressão, os nossos corações estão despedaçados. Todas as pessoas que conheço estão não só melancólicas como profundamente tristes. Eu estou profundamente triste. Creio que não há outra saída após termos conhecido o Mal, a pura maldade daquilo que os seres humanos podem fazer. E, quando digo isto, refiro-me a tudo o que se está a passar, a começar pelo massacre de 7 de outubro.

A guerra desencadeada por Israel é também sem precedentes. Como é acordar todos os dias rodeado dessa violência? 
Significa não ser capaz de viver em paz, e a saber que a partir de agora isso será uma miragem. Que mesmo que a paz seja possível entre Israel e a Palestina, o que há anos defendo e desejo profundamente, não haverá tranquilidade nem o sentimento de estabilidade. Há uma espécie de estreiteza da alma que tomou conta da vida. Uma pessoas só quer encolher-se e proteger-se e proteger aquela superfície da sua alma que entra em contacto com a realidade.

O que vai ficar destes escombros? Como se sai daqui?
Não se sai. Temos sempre de recordar uma coisa: nós e os palestinianos vamos viver lado a lado até à eternidade. Que tipo de paz se pode fazer com um vizinho com quem nos comportamos deste modo? E que tipo de paz pode ele esperar de nós se não reconhece a nossa existência? Estamos apenas a minimizar as hipóteses de ter alguma normalidade no futuro."

"Estamos a sentir e a sofrer, mas também estamos a pensar. Não podemos renunciar a pensar."


DAVID GROSSMAN, escritor israelita e activista pela paz (1954 -), excertos 
da entrevista a Luciana Leiderfarb, revista “E", jornal Expresso, 3 janeiro 2025

(fotos net)

Boa semana!

13 janeiro, 2025

Pétala nº 3840


A nossa vida é um instante em aberto. Somos chamados a cultivá-la, sim, com a paciente humildade que um jardineiro reserva ao seu jardim. Este trabalha de sol a sol, com todo o afinco, mas sabe que a semente rebenta sem ele saber como. Felizes aqueles que, em relação à vida, se alimentam do espanto interminável: esses, e só esses, sentirão a passagem inacabada do tempo como uma promessa.”
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA, cardeal, teólogo e poeta português (1965-) in “Uma beleza que nos pertence”, Ed. Quetzal, 2019

“… o mundo não é um conto de fadas (…) Não, a vida é sacrifício, a vida é entrega, a vida é atitude. Há algo na sociedade de hoje que, de alguma maneira, nos inquieta.”
CARLOS BUNGA, artista plástico português (1976-) in entrevista a Isabel Salema, revista Ípsilon, jornal Público, 4 Outubro 2024

O mundo está em constante movimento e vibração. A paisagem é a maior das ilusões (…) recordada como se fosse um quadro. A memória cria postais ilustrados, mas não compreende o mundo de modo nenhum. É por isso que a paisagem é tão vulnerável à disposição daqueles que a contemplam. O ser humano vê, na paisagem, os seus próprios momentos, interiores e passageiros. Para onde quer que olhe, vê-se apenas a si próprio. Ponto final.”
OLGA TOKARCZUK, psicóloga e escritora polaca (1962-), in “Casa de Dia, Casa de Noite ”, Ed. Cavalo de Ferro, 2022
Prémio Nobel de Literatura, 2018

“Não aprendi nada com a existência. O que se aprende com a vida são histórias que contamos a nós próprios. Fim das narrativas. Quando desaprendemos mais do que aprendemos, batemos no fundo e isso dói. Levantamo-nos porque é demasiado cansativo permanecermos deitados.”
Há que caminhar para manter o mundo."
FRÉDÉRIC GROS, filósofo, professor, escritor francês (1965-), in "CAMINHAR uma filosofia" (2009), Ed. Antígona, 2024



Desejo-lhe um 2025 cheio de... VIDA!


(Fotos PIXABAY)


16 dezembro, 2024

Pétala nº 3839

Boas Festas!


HOSSANA

Junquem de flores o chão do velho mundo:
Vem o futuro aí!
Desejado por todos os poetas
E profetas
Da vida,
Deixou a sua ermida
E meteu-se a caminho.
Ninguém o viu ainda, mas é belo.
É o futuro...

Ponham pois rosmaninho
Em cada rua,
Em cada porta, em cada muro,
E tenham confiança nos milagres
Desse Messias que renova o tempo.
O passado passou.
O presente agoniza.
Cubram de flores a única verdade
Que se eterniza!

MIGUEL TORGA, poeta português (1907-95), in "Poesia completa", Ed. Dom Quixote, 2000


“Somos ramos da mesma videira, somos vasos comunicantes: o bem e o mal que realiza cada um reverte-se sobre os outros. Na medida em que permanecemos em Deus, aproximamo-nos dos outros e, na medida em que nos aproximamos dos outros, permanecemos em Deus.”
PAPA FRANCISCO (Jorge Mario Bergoglio), 266º Papa da Igreja Católica, eleito em 13 de Março de 2013, natural da Argentina (1936-)

“Somos todos seres humanos e estamos todos em perigo. Temos de nos compreender e amar rapidamente.”
SÁNDOR MÁRAI, escritor húngaro (1900-89), in “Libertação” (escrito entre Julho e Setembro de 1945), Ed. D. Quixote, 2023


"A oração habita cada um dos nossos sentidos"

"Rezar é sempre conspirar por um acontecer."

JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA, cardeal, teólogo e poeta português (1965-) in “Uma beleza que nos pertence”, 
Ed. Quetzal, 2019


Desejo-lhe um Feliz Natal e 
um Novo Ano cheio de 
Saúde, Amor, Paz e Alegria.


Luís, muito obrigada por mais uma estrela sua.
Tenha um Feliz Natal e um Bom Ano Novo.


(Volto no dia  13 de Janeiro. Beijos e Abraços.)


(Fotos: PIXBAY)

09 dezembro, 2024

Pétala nº 3838


"Metade da Vida Passa-se na Escuridão
É assim mesmo, quer se saiba disso ou não. Quer se aceite isso ou não. Quer se concorde com isso ou não. Mas a maior parte das pessoas só se lembra da noite por causa das insónias. Quando se dorme como uma pedra, não se sabe sequer que é noite.

A noite não é negra, como se costuma dizer. Tem luzes suaves que fluem do céu para as montanhas e para os vales. A Terra também brilha. É um brilho frio, acinzentado, levemente fosforescente como o brilho dos ossos nus e da podridão. Durante o dia, não se vê esse brilho, nem durante as noites claras de luar, nem nas cidades e aldeias iluminadas. A luz da Terra só se vê nas verdadeiras trevas.

Além disso, existem ainda estrelas e a Lua. Assim sendo, a noite é clara.”

OLGA TOKARCZUK, psicóloga e escritora polaca (1962-), in “Casa de Dia, Casa de Noite ”, Ed. Cavalo de Ferro, 2022 - Prémio Nobel de Literatura, 2018


“É preciso que o negro se acentue para
que a primeira estrela apareça.”

"A minha avó ensinou-me muito cedo como apanhar estrelas:
basta pôr de noite uma vasilha com água no meio do pátio,
para as vermos a nossos pés."

VALÉRIE PERRIN, escritora francesa (1967-), in "A breve vida das flores", Ed. Presença, 2022


“Há noites em que morremos de tristeza,
à espera que uma estrela nos rebente no olhar.”

GRAÇA PIRES, poetisa portuguesa (1946-), in "Poemas Escolhidos 1990-2011"
(fotos PIXABAY)


02 dezembro, 2024

Pétala nº 3837


“Passamos muito tempo ouvindo o que as pessoas dizem e raramente prestamos atenção ao que elas não dizem.”

“Nas culturas asiáticas, o silêncio denota reflexão profunda e nelas o que não é dito pode ser tão ou mais importantes do que o que é dito.”

CARLOS BUNGA, artista plástico português (1976-) in entrevista a Isabel Salema, revista Ípsilon, jornal Público, 4 Outubro 2024


"O silêncio é uma disciplina do coração: calar os pensamentos, as imagens, as maledicências, as superficialidades." 

"O silêncio é um caminho. Não basta, por exemplo, estarmos calados para estar em silêncio. Podemos estar calados e o rumor ser ensurdecedor. Há uma qualidade de silêncio que é uma conquista, que é um processo em que nós entramos."

"De facto, o mundo, este mundo que nos habituamos a identificar como estridente caixa sonora que nunca dorme, é atravessado por um fio de silêncios à espera de serem escutados."

"Como é que percebemos que duas pessoas que não conhecemos são amigas? Pela forma como conversam. Mas mais ainda porque nitidamente abraçam, com serenidade e alegria, o silêncio da outra."

JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA, cardeal, teólogo e poeta português (1965-) in “Uma beleza que nos pertence”, Ed. Quetzal, 2019


“- Devíamos ser mais amigas. Não achas?
- Claro… Mas nós não gostamos assim tanto uma da outra.
- Não sei porque é que isso nos deve impedir de sermos amigas. Quantos amigos gostam realmente uns dos outros?”

MICHAEL CUNNINGHAM, escritor norte-americano (1952-), in “dia”, Ed. Gradiva, 2024



(fotos PIXABAY)


25 novembro, 2024

Pétala nº 3836


- Não é preciso sair de casa para conhecer o mundo (…)
Nas viagens, é preciso cuidar de si mesmo para seguir em frente, olhar para dentro e ver qual é o nosso lugar no mundo. Uma pessoa está focada em si mesma, pensa em si, cuida de si. Durante a viagem, a pessoa acaba sempre por se encontrar consigo mesma, como se isso fosse o objectivo. Na nossa própria casa, nós existimos pura e simplesmente, não é preciso lutar contra nada, nem nada conquistar. Não é preciso estar atento às ligações dos comboios, aos horários dos transportes, não se procuram arrebatamentos, nem decepções. Podemos pôr-nos à margem e, nessa altura, é quando vemos mais.

OLGA TOKARCZUK, psicóloga e escritora polaca (1962-),  in Casa de Dia, Casa de Noite ”, Ed. Cavalo de Ferro, 2022 
 Prémio Nobel de Literatura, 2018


“A minha casa não tem portas nem janelas, não tem escadas nem pátio, não tem tecto nem quartos, não tem mesas ou armários, não tem cadeiras ou quadros.
A minha casa são os que amo.”

CARLOS BUNGA, artista plástico português (1976-) in entrevista a Isabel Salema, revista Ípsilon, jornal Público, 4 Outubro 2024


"A vossa casa é o vosso corpo em ponto grande.
Cresce ao sol e dorme na quietude da noite;
e tem sonhos.
A vossa casa não sonha?

KHALIL GIBRAN, citado por OLGA TOKARCZUKin Casa de Dia, Casa de Noite 

18 novembro, 2024

Pétala nº 3835


“Há as lembranças, o presente e as nossas vidas anteriores que mudam de cheiro. Quando se muda de vida, muda-se de cheiro.

A infância tem o do alcatrão, de uma câmara de ar e do algodão-doce, do desinfetante das salas de aula, das chaminés das lareiras que exalam o hálito das casas nos dias de frio, do cloro das piscinas municipais, da transpiração agarrada à roupa nas filas dois a dois à saída do ginásio, das pastilhas elásticas na boca, da cola que faz fio nos dedos, das gomas entaladas entre os dentes, de uma árvore de Natal plantada no coração.


A adolescência tem o odor da primeira passa, de um desodorizante almiscarado, de uma fatia de pão com manteiga numa caneca de chocolate quente, do uísque-cola e das caves transformadas em salas de baile, do corpo que deseja, da água de colónia, do gel para o cabelo, do champô de ovo, do batom, de restos de detergente numas calças de ganga.


As vidas posteriores, aquela da écharpe esquecida pelo primeiro desgosto amoroso.


E depois há o verão. O verão pertence a todas as lembranças. É intemporal. É o cheiro que é mais duradouro. Que se agarra às roupas. Que se busca toda a a vida. Os frutos mais doces, a brisa marítima, as bolas de Berlim, o café escuro, o protector solar, o pó de arroz das avós. O verão pertence a todas as idades. Não há infância nem adolescência. O verão é um anjo."

VALÉRIE PERRIN, escritora francesa (1967-), in "TRÊS", Ed. Presença, 2023



(fotos PIXABAY)

17 novembro, 2024

Pétala sem número

 
Ter um Pai! É ter na vida
Uma luz por entre escolhos; 
É ter dois olhos no mundo
Que veem pelos nossos olhos!

Ter um Pai! Um coração
Que apenas amor encerra,
É ver Deus, no mundo vil,
É ter os céus cá na terra!
(...)
Ter um Pai! Um santo orgulho
Pró coração que lhe quer
Um orgulho que não cabe
Num coração de mulher!

Embora ele seja imenso
Vogando pelo ideal,
O coração que me deste
Ó Pai bondoso é leal!

Ter um Pai! Doce poema
Dum sonho bendito e santo
Nestas letras pequeninas,
Astros dum céu todo encanto!

FLORBELA ESPANCA, poetisa portuguesa (1894-1930)


Parabéns, pai!
Saudade eterna.

11 novembro, 2024

Pétala nº 3834


“O céu aqui é de um azul impossivelmente penetrante e às vezes canta…”

“Aqui o céu canta durante o dia. É preciso ouvi-lo.”


“… quando o céu canta durante o dia assemelha-se muito mais gregoriano do que a qualquer outra coisa, embora isso não seja exactamente correcto. É uma espécie de ribombar musical, é profundo e ocorre-me sonoro mas também não é bem isso. É reverente à sua maneira ainda que não suplicante, é como se Deus cantasse para si próprio…”


“Quem é que não tem medo da noite? Não sei bem como dizer isto, porém, as noites parecem uma gigantesca semi-escuridão iluminada, à qual nos podemos juntar, da qual podemos fazer parte.”

“Quem é que não se sente desamparado? Não será melhor reconhecê-lo? Não deveríamos substituir as acusações por um reconhecimento mais circunspecto e desgastado pelo mundo. Amamo-nos uns aos outros porque não sabemos amar-nos verdadeiramente a nós mesmos; dependemos uns dos outros porque não sabemos depender de nós próprios.”

MICHAEL CUNNINGHAM, escritor norte-americano (1952-), in “dia”, Ed. Gradiva, 2024


(Fotos: Espanha/Isla Canela, 2024)

04 novembro, 2024

Pétala nº 3833


CARTA À MINHA FILHA

Lembras-te de dizer que a vida era uma fila?
Eras pequena e o cabelo mais claro,
mas os olhos iguais. Na metáfora dada
pela infância, perguntavas do espanto
da morte e do nascer, e de quem se seguia
e porque se seguia, ou da total ausência
de razão nessa cadeia em sonho de novelo.
(…)
E o que eu queria dizer-te é dos nexos da vida,
de quem habita para além do ar.
E que o respeito inteiro e infinito
não precisa de vir depois do amor.
Nem antes. Que as filas só são úteis
como formas de olhar, maneiras de ordenar
o nosso espanto, mas que é possível pontos
paralelos, espelhos e não janelas.

E que tudo está bem e é bom: fila ou
novelo, duas cabeças tais num corpo só,
ou um dragão sem fogo, ou unicórnio
ameaçando chamas muito vivas.
Como o cabelo claro que tinhas nessa altura
se transformou castanho, ainda claro,
e a metáfora feita pela infância
se revelou tão boa no poema. Se revela
tão útil para falar da vida, essa que,
sem tigelas, intactas ou partidas, continua
a ser boa, mesmo que em dissonância de novelo.
(…)

ANA LUÍSA AMARAL, poetisa, tradutora, professora portuguesa (1956-2022), versos do poema "Carta à Minha Filha"


PARABÉNS FILHOTA!
Mil beijos e abraços carregados de Amor. 💚💛



(fotos PIXABAY)

28 outubro, 2024

Pétala nº 3832

Reviravoltas da Vida


“Gosto da minha vida… Contra ventos e marés.”

“… não encontrei na vida maior mistério do que eu próprio”.

“Seja lá como for que imaginamos o que vai ser a nossa vida, o mais provável é não acertarmos. Concordas?"

“Quando foi a última vez que ‘tiveste sozinho. A ver a noite cair. A ver o dia nascer. A pensar na tua vida. A pensar nos lugares onde ‘tiveste e onde queres ir. Se houve uma razão pra tudo o que fizeste.”

CORMAC McCARTHY, escritor americano (1933- 2023), in “O Passageiro”, Ed. Relógio d’Água, 2022)


"A vida, que é uma fieira de sofrimentos de intensidade crescente, acelera até ao fim, o sofrimento extremo."
LEV TOLSTÓI, escritor russo (1828-1910), in “A Morte de Ivan Iliitch” (1886), Ed. Presença, 2024

“A vida é tão curta e o ofício de viver tão difícil, que, quando começamos a aprendê-lo, temos de morrer.”
ERNESTO SÁBATO, escritor, artista plástico argentino (1911-2011)

"Morremos independentemente daquilo que comemos, daquilo que fazemos, daquilo que pensamos. Tudo indica que a morte é um momento mais natural do que a vida."
OLGA TOKARCZUK, psicóloga e escritora polaca (1962-), in “Casa de Dia, Casa de Noite ”, Ed. Cavalo de Ferro, 2022
Prémio Nobel de Literatura, 2018


"Quanta tristeza
Há nesta vida
Só incerteza
Só despedida..."

VINICIUS DE MORAES,  poeta e compositor brasileiro (1913-80)

(fotos net)

21 outubro, 2024

Pétala nº 3831


"A exploração espacial e um olhar cósmico poderiam ser a solução para a paz mundial?
Sim. Assim que tivermos um autocarro que possamos enviar para o espaço, deveríamos reunir todos os líderes mundiais – basta colocá-los no autocarro, não apenas em órbita da Terra, mas enviá-los para a Lua. O que faríamos era - isto parece maldade mas é por uma boa causa – dizer: “Queremos que tenham uma perspectiva cósmica do mundo, percebendo que estamos todos juntos neste mundo. A essa distância, não se consegue sequer ver as fronteiras dos países." Diríamos: “Precisamos que todos vocês reconheçam isso e, depois, trazemos-vos de volta à Terra!" (...)  Talvez esse seja o melhor caminho para a paz mundial: pegar em todos os líderes e dar-lhes uma injecção de uma perspectiva cósmica."

"O mundo seria um lugar melhor se todos fossemos cientistas?
Não, não podemos ser todos cientistas. Precisamos de artistas e de músicos e precisamos de terapeutas para nos ajudarem a ultrapassar (os problemas). Precisamos de alguns cientistas porque, caso contrário, o progresso da civilização pararia – “Progresso” significa a nossa saúde, riqueza, segurança e as coisas que nos chegam através do trabalho da ciência, tecnologia, engenharia e matemática."
“… há pessoas que dizem: Não confio na ciência. Mas, entretanto, as pessoas estão vivas por causa da ciência.”

… tem esperança no futuro da civilização?
Tenho esperança no futuro da civilização, desde que existam forças racionais a operar para analisar os pensamentos e sentimentos das pessoas. Toda a gente tem algum preconceito, de certeza, mas tomem consciência disso para não começarem a criar leis que suprimam as liberdades dos outros.”

NEIL DE GRASSE TYSON, astrofísico, escritor e divulgador científico norte-americano (1958-), excertos da entrevista a Filipa Almeida Mendes, revista Ípsilon, jornal Público,  22 dezembro 2023


(fotos net)


14 outubro, 2024

Pétala nº 3830

Em noite de lua cheia...
"Nunca me disseste amo-te, mais eu amo-te por nós."
(Valérie Perrin, in "os esquecidos de domingo")


"Há duas coisas que aprendi no contacto com os mais velhos.
Aproveita a vida, ela passa depressa. 
Nunca contes um segredo. Nem ao teu irmão, nem ao teu filho, nem ao teu pai, nem à tua melhor amiga, nem a um desconhecido. Nunca.’’
VALÉRIE PERRIN, escritora francesa (1967-), in "os esquecidos de domingo", Ed. Presença, 2023

"O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá mais se tem."
ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY, piloto e escritor francês (1900-44)

Nunca sabemos como vai andar a roda do destino.” 
JOSÉ CARLOS BARROS, arquitecto e escritor português (1963-), in “As pessoas invisíveis” (Prémio LeYa, 2021), Ed. LeYa, 2022

Nunca devemos subestimar o egoísmo.”
CLARA FERREIRA ALVES, jornalista e escritora portuguesa (1956-), in crónica "Confessional", publicada na revista "E", do jornal Expresso de 20 janeiro 2023

“Felizmente, nunca nos habituamos a viver derrotados.” 
MARTA ORRIOLS, escritora espanhola (1975), in “Doce introdução ao caos”, Ed. D. Quixote, 2022

"Não saberei nunca /dizer adeus
MIA COUTO, escritor moçambicano (1955-), versos do "Poema da despedida", in "Raiz de orvalho e outros poemas", Ed. Caminho, 2009


"Não esqueças nunca Treblinka e Hiroshima
O horror o terror a suprema ignomínia"

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, poetisa portuguesa(1918-2004), 
versos do poema "Não te esqueças nunca".


 Fotos da amiga Chica: "Céu e palavras"


07 outubro, 2024

Pétala nº 3829

OUTONO ou PRIMAVERA ... que traga a Paz mundial


Canção de Outono

No entardecer da terra,
O sopro do longo outono
Amareleceu o chão.
Um vago vento erra,
Como um sonho mau num sono,
Na lívida solidão.

Soergue as folhas, e pousa
As folhas volve e revolve
Esvai-se ainda outra vez.
Mas a folha não repousa
E o vento lívido volve
E expira na lividez.

Eu já não sou quem era;
O que eu sonhei, morri-o;
E mesmo o que hoje sou
Amanhã direi: quem dera
Volver a sê-lo! mais frio.
O vento vago voltou.

FERNANDO PESSOA, poeta português (1888-1935), poema publicado em 1922 
no semanário "Ilustração Portuguesa", nº 833.


Há uma primavera em cada vida: 
É preciso cantá-la assim florida, 
Pois se Deus nos deu voz, foi para cantar!

FLORBELA ESPANCA, poetisa portuguesa (1894-1930), versos do poema "Amar", 
in “Sonetos”, Livraria Bertrand, 1980

 
Luís, obrigada pelo miminho outonal. Lindo!


Voltei, para desejar a quem visita este "jardim" um
Outono ameno ou, se for o caso, uma 
Primavera florescente.
Beijos e Abraços.


29 julho, 2024

Pétala nº 3828

“Sabemos sempre porque caminhamos. 
Para avançar, partir, alcançar, recomeçar.”
(Frédéric Gros, in "CAMINHAR uma filosofia)


"Toda a gente sabe caminhar. Um pé à frente do outro, eis a medida certa, a distância para se ir algures, seja aonde for. E basta recomeçar.
Um pé à frente do outro."

"Quando se caminha, é preciso partir de madrugada, a fim de se acompanhar o nascimento do mundo e, nessa hora azul, sentir as palpitações da presença, a indigência da nossa vontade."

"Caminhar ao amanhecer é compreender a força dos começos naturais."

"A paisagem é um conjunto de sabores, cores e odores que o corpo absorve."

"É um dos segredos da caminhada. A aproximação lenta das paisagens torna-as familiares, tal como a convivência aumenta a amizade."

"A lentidão é colarmo-nos ao tempo a ponto de os segundos se desfiarem. Escoarem-se gota a gota. Como pingos de chuva sobre a pedra. Esse alongamento do tempo aprofunda o espaço."

"Os dias passados a caminhar são mais longos: permitem viver mais porque deixámos que cada hora, cada minuto, cada segundo respirasse, se aprofundasse..."

FRÉDÉRIC GROS, filósofo, professor, escritor francês (1965-), in "CAMINHAR uma filosofia" (2009), Ed. Antígona, 2024

"Caminhar é uma oração silenciosa, que não se faz com palavras, mas com as pernas, que avançam. É uma expressão de gratidão, um modo de prestar homenagem à paisagem e ao mundo."

FRÉDÉRIC GROS, filósofo, professor, escritor francês (1965-), em entrevista a Pedro Rios, publicada na revista Ípsilon, jornal Público, 12 Abril 2024 


“O tempo pode passar de modo mais subtil ou explícito, mas passa. O tempo – que não é só cronológico, mas expressão da própria existência – é passagem, fluxo, travessia.”
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA, cardeal, teólogo e poeta português (1965-), em entrevista a Christiana Martins, publicada na revista "E", do jornal Expresso de 22 Dezembro 2023 

“… dentro do tempo, o que será verdadeiramente importante?"
PATRÍCIA REIS, jornalista e escritora portuguesa (1970), in “Chave de entendimento para uma sinfonia perdida”, Ed. Expresso, 2018 


“O tempo arrasta-nos,
e empurra-nos,
ilude-nos
e alaga-nos em remoinhos de lodo.
Envelhece-nos e mata-nos a todos.”

JAIME PORTELA, https://riosemmargenspoesia.blogspot.com/versos do poema
"O Tempo", 18 Março 2024


(Fotos: PORTUGAL/Albufeira do Alqueva, 2022. Mais fotos aqui.)


Volto em Outubro.
Até lá, fiquem bem.
Beijos e Abraços.


22 julho, 2024

Pétala nº 3827


“Fui para Paris em meados dos anos setenta e fui ali muito pobre e muito infeliz. Gostaria de poder dizer que fui feliz como Hemingway: «Paris nunca se acaba, e a memória de cada pessoa que ali viveu é diferente da memória de qualquer outra (…)  éramos muito pobres e muito felizes”

«Depois de se viver em Paris, fica-se incapacitado para viver em qualquer sítio, Paris incluído.(John Ashbery)
O passado, dizia Proust, não só não é fugaz, como não sai do sítio. Com Paris passa-se o mesmo, nunca partiu em viagem. E ainda por cima é interminável, nunca se acaba.” 
“Que Paris nunca acabasse deve ter sido para Quiroga (…) um verdadeiro pesadelo. Vejam o que escreveu no seu diário: “Que angústia tão grande! Há momentos em que quase choro. E acontecer-me isto em Paris, sem ter uma única pessoa a quem recorrer! Cada dia que passa, em vez de ter mais esperança, é mais escuro»

“Pensem quais podem ser as razões básicas para o desespero. Cada um de vocês terá as suas. Proponho-vos as minhas: a volubilidade do amor, a fragilidade do nosso corpo, a opressiva mesquinhez que domina a vida social, a trágica solidão em que no fundo todos vivemos, os reveses da amizade, a monotonia e a insensibilidade que andam associadas ao costume de viver. No outro lado da balança, encontramos Paris. Essa cidade, talvez porque nunca se acaba e porque, além disso, é maravilhosa, pode com tudo, pode com todas as causas que ao homem se deparam para ser infeliz.” 

 “… quando me ouvirem dizer (…) que Paris nunca se acaba, o mais provável é que o esteja a dizer ironicamente.”
“Uma frase de Rilke «Conquistai as profundidades, a ironia não desce aí.» E uma de Jules Renard: “A ironia é o pudor da humanidade.» Vou ser sincero: as duas frases, por muito discutíveis que sejam, parecem-me perfeitas. Embora da que mais goste seja a minha: «A ironia é a mais elevada forma de sinceridade». 

ENRIQUE VILA-MATAS, escritor espanhol (1948-), in “Paris Nunca se Acaba”(2003), Ed. Teorema, 2005

(“Paris nunca se acaba” é uma revisão irónica dos tempos de aprendizagem literária do narrador na Paris dos anos setenta, e é também o título do último capítulo de "Paris é uma festa", romance póstumo de Ernest Hemingway, publicado tem 1964.)

ERNEST HEMINGWAY, escritor norte-americano (1899-1961) - Prémio Nobel de Literatura, 1954
JOHN ASHBERY, poeta norte-americano (1927-2017)
MARCEL PROUST, escritor francês (1871-1922)
HORACIO QUIROGA, escritor /contista uruguaio (1978-1937)
RAINER MARIA RILKE, poeta e romancista austríaco (1875-1926) 
JULES RENARD, escritor francês (1864-1910)


Paris? 
Gosto tanto de Paris.
A melhor cidade quando se está apaixonado, a pior quando não se está.”

PATRÍCIA REIS, jornalista e escritora portuguesa (1970 -), in
Chave de entendimento para uma sinfonia perdida”, Ed. Expresso, 2018 


(fotos PIXABAY)